domingo, 23 de setembro de 2012

Saída.





Passaram dois segundos desde a ultima vez que abrira seus olhos pela última vez.  Pelo menos era o que parecia.
Mas não, não foram dois segundos e muito menos a última vez. A íris escura, facilmente confundida com a pupila que logo se dilatava com a falta de luz do lugar, apareceu instantaneamente.
Mas não era ali, não podia ser ali. Como viera parar num lugar escuro como esse? Sua cabeça entrava numa fusão de pensamentos aleatórios e uma leve dor do lado esquerdo.
Logo uma forte luz tocou seus olhos o que a fez fechá-los imediatamente. E só agora tinha realmente aberto os olhos.
Sentiu-se leve e por isso levantou-se da cama. Aproximou-se da primeira janela que encontrou e sorriu ao se deparar com a luz do sol.
“Verão...” Ela murmurou e tornou a caminhar.
Os passos seguiam para lugar algum, apenas caminhava a procura de alguma porta que a levaria para fora daquele lugar gelado.
... Domingo.
Por favor... Continue respirando... Acordou novamente desesperada com um sussurro que balançou seus cabelos e arrepiou todo seu corpo. Levantou-se novamente e olhou o sol que ardia lá fora e tornou a procurar a saída.
Sonhava aos cantos como se deliciaria com o mundo lá fora. Deixaria-o queimar sua pele, e sua retina. Permitiria aquele ar puro invadir seus pulmões e correr pelas suas veias.
Mas apenas sonhava.
Talvez tivesse medo da saída e o que viria a acontecer depois, ou simplesmente não a encontrava.
Vagando pelos corredores cheios, em um dia qualquer, esbarra em alguém com o mesmo olhar perdido.
“És novo?” – As palavras escorregaram pela língua caindo pela boca.
“Como?”
“Está à procura da saída também?”
“Sabe onde é meu quarto?”
“Já olhou o sol lá fora?”
“Já tentou responder alguma das minhas perguntas?”
“Eu perguntei primeiro!”
“Não, não sou novo. Não acho que tenha alguma saída e sim... Todos os dias.”
“Obrigada. E não sei onde é seu quarto.”
“Ah tudo bem... Boa sorte com a saída.”
“Boa sorte com o quarto!”
Continuaram seus caminhos opostos e se esbarraram no dia seguinte novamente.
“Achou seu quarto?”
Ele balançou a cabeça negativamente e logo tornou com a pergunta óbvia sobre ter achado a saída.
“Ainda estou aqui, não?”
“Sim...” Continuaram em silêncio e com olhos perdidos até que aquele foi quebrado pela voz fraca do menino: “Não encontrarás a saída...”.
“Errado...”
“Estou certo, se você quiser talvez ela possa te encontrar”.
A menina não evitou em passar os próximos dias pensando nas palavras do garoto.
A dor do lado esquerdo ainda a incomodava.
Debruçou-se no parapeito da janela e ficou a ver o dia ensolarado passar.
Não encontrou o garoto pelos corredores cheios mais, e logo entristeceu- se e emburrou-se. Ficava sentada olhando para a janela, criando coragem para sair por ali mesmo. Mas suas pernas tremiam e mal sentia suas mãos. Talvez estivesse presa àquele lugar.
Mais alguns dias passaram e ela já não se movia, e nem procurava pela saída. Apenas esperava como o menino dissera.
Sentia seu corpo petrificar conforme não se movia, mas já não ligava.
A ideia de sair daquele lugar virara utópica demais.
 E quando deixou de acreditar por inteiro, simplesmente levantou-se deixando a poeira acumulada em seu colo ir em direção ao chão, mas antes que pudesse tocá-lo a janela estava aberta e a poeira se espalhou, ela sentiu aquela brisa em seus cabelos, e a luz em sua pele. Um último choque percorreu seu corpo.
E era ali, depois de anos... O fim!
Porque nunca acordara, mas só agora dormia em paz.



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